quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Soneto de Luz e Treva | Vinicius de Moraes

Eu sempre pensei que casais fossem bons exemplos de pessoas que combinassem quase que perfeitamente em tudo. Aliás, ao meu ver, um possível "pré-requisito" para haver um casal seria exatamente esse: muitas coisas em comum, verdadeiras almas gêmeas que se encontraram quase sem querer. Mas o que dizer quando nos deparamos com pessoas tão diferentes, mas tão diferentes que se amam enlouquecidamente?
Vinicius de Moraes tentou entender como isso acontece. Seria algo físico, do tipo "os opostos se atraem"? Não sei. Acho que nem o poeta sabe! Confiram:


 
SONETO DE LUZ E TREVA

Ela tem uma graça de pantera
no andar bem comportado de menina
no molejo em que vem sempre se espera
que de repente ela lhe salte em cima

Mas súbito renega a bela e a fera
prende o cabelo, vai para a cozinha
e de um ovo estrelado na panela
ela com clara e gema faz o dia

Ela é de Capricórnio, eu sou de Libra
eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã
a mim me enerva o ardor com que ela vibra

E que a motiva desde de manhã.
-- Como é que pode, digo-me com espanto
a luz e a treva se quererem tanto...


(Vinícius de Moraes)

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